terça-feira, 13 de março de 2012

Hermeto Pascoal (Imagens: Cebarre)


Nascido em Município da Lagoa da Canoa de Arapiraca em 22 de junho de 1936, o "Galego do seu Pascoal", como costumavam chamá-lo, começou a se maravilhar com os sons ainda muito menino na serralheria de seu avô, batendo em pedacinhos de ferro que pendurava em um varalzinho. Aos sete anos começou a tocar sanfona de sete baixos e flautas rudimentares feitas por ele mesmo. Um ano mais tarde ganhou de seu pai uma sanfona de 32 baixos com a qual começou a tocar em bailes da região, acompanhado do irmao José.

Aos quatorze anos mudou-se com a família para Recife, onde se apresentava em programas de rádio, e aos vinte anos foi contratado pela Rádio do Comércio onde acompanhava calouros e comandava uma orquestra. Lá formou com seu amigo Sivuca - também albino, e com quem costuma ser confundido - um trio chamado O Mundo em Chamas.

O multiinstrumentista e compositor fala sobre seu processo criativo e seu livro, Calendário do Som, onde publicou 367 partituras, feitas uma a cada dia, durante 1 ano.
Em 1958 trocou Recife pelo Rio de Janeiro, onde tocou por três anos acompanhando outros músicos, em programas de rádio e no grupo Regional de Pernambuco do Pandeiro antes de mudar-se para São Paulo. Tocou em casas noturnas como a Stardust, onde tocava piano de maneira conservadora seguindo os requisitos da casa. Nos intervalos ia ao banheiro estudar flauta. Logo formaria o Trio Sambrasa no qual tocava piano ao lado de Airto Moreira na bateria e Claiber no baixo. Mais ou menos na mesma época, Airto o convidou para integrar o trio do qual fazia parte, o Trio Novo, com Théo de Barros no baixo e Heraldo do Monte no violão. Com a entrada de Hermeto Pascoal surgiu o conjunto que abriu trilhas para a música instrumental brasileira, o fantástico e desbravador Quarteto Novo, com propostas novas, misturando ritmos nordestinos com arranjos jazzísticos sofisticados. Infelizmente, dessa formação só foi lançado um álbum, Quarteto Novo, que vergonhosamente segue sem uma reedição em CD. O quarteto participou do terceiro festival da Record, acompanhando Edu Lobo na canção vencedora de festival, "Ponteio".

O grupo se dissolveu com a partida de Airto para os EUA em 1969, e dois anos mais tarde a convite do mesmo Hermeto seguiu para Nova Iorque, onde se apresentou para uma platéia seleta que incluía Joe Zawinul, Miles Davis, Wayne Shorter e Gil Evans. Miles ficou muito impressionado com Hermeto e o convidou a participar de um concerto em Washington D.C. do qual resultou o álbum Live Evil, descrito por alguns como "assustador". O disco traz duas composições de Hermeto, "Capelinha" (Little Church) e "Nem Um Talvez". Na primeira Hermeto faz um duo de assobio com o trompetista. Hermeto conta que, nas horas vagas, quando não estavam tocando, Miles e ele costumavam lutar boxe. Um ano mais tarde, ao voltar dos EUA, havia trocado o corte militar por uma vasta cabeleira.

De volta ao Brasil, seguiu com suas pesquisas musicais, revolucionando e se renovando a cada novo disco. Lançou em 1973 o disco A música livre de Hermeto Pascoal e regressou três anos mais tarde aos EUA para gravar o álbum Slaves Mass, que conta com a participação de dois porcos - que, segundo Hermeto, tiveram cada um o seu microfone, e os cachês devidamente pagos. Em 1978 fez uma apresentação histórica no Festival de Jazz de Montreux, registrada no álbum duplo Ao Vivo em Montreux.

Ao longo de toda a carreira, a criatividade de Hermeto tem se mostrado inesgotável. Valendo-se de todo e qualquer tipo de objeto capaz de produzir sons - além dos instrumentos convencionais, como saxofone, bateria, piano, escaleta, flauta, violão, contrabaixo, bombardino, sanfona, que toca magistralmente - Hermeto Pascoal é uma força da natureza. Esse caráter experimentador lhe valeu o apelido de "bruxo dos sons". Em Calendário do Som (2000), chegou ao requinte de criar uma composição diferente para cada dia do ano, homenageando assim todos os habitantes do planeta. Essa obra sintetiza bem o caráter de Hermeto: uma pessoa cordial, espontânea e generosa, para quem a música não é um mero ganha-pão, mas sim um sacerdócio.
Fernando Jardim




















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