terça-feira, 13 de março de 2012

Victor Assis Brasil 1945-1981 (imagens: Paris CAR Show)

O extraordinário saxofonista Victor Assis Brasil constitui um caso único no jazz brasileiro. Nascido em 1945, começou a tocar profissionalmente em 1965 e estudou de 1969 a 1973 na Berklee School of Music, nos Estados Unidos. Voltou ao Brasil e aqui permaneceu até que, em 1981, uma doença circulatória rara e grave o tirou prematuramente de nosso convívio. Tinha apenas 35 anos. Porém, sua obra gravada (sete discos lançados em vida), as centenas de composições inéditas que deixou e a lembrança de inúmeros e memoráveis concertos bastam para colocá-lo como o maior instrumentista brasileiro.

Maior instrumentista brasileiro? Pode-se ir além. Alguém que ouça as gravações de Victor poderia perfeitamente ser levado a fazer uma afirmativa ainda mais radical: trata-se de um músico do porte de Charlie Parker e John Coltrane — logo, um dos maiores jazzistas de todos os tempos.

Certamente, tal juízo merece uma explicação, e por incrível que pareça não é difícil justificá-lo. Basta considerar objetivamente a sua música. Os improvisos de Victor são de grande fôlego criativo, uma verdadeira torrente de idéias encadeadas de maneira perfeitamente coerente. O discurso é incisivo, focalizado, sempre dotado de forte sentido de direção. Seu fraseado é arrojado e altaneiro. O timbre é puro, tanto no sax alto como no sax soprano, graças a uma técnica estupenda, a mesma que lhe permitia articular frases em alta velocidade sem perder a nitidez do som. Nas peças em andamento lento, Victor também é um intérprete excepcional, desenhando frases de grande expressividade.

Não bastasse isso, Victor revelou a amplitude de sua concepção musical quando, em seus últimos anos, começou a trilhar o caminho dos experimentos da third stream, a fusão do jazz com a música erudita. Isso fica claro por algumas de suas composições inéditas — peças para orquestra, para quarteto de cordas, e até um concerto para piano e orquestra — bem como por sua atuação como solista clássico (por exemplo, na estréia da “Suíte para sax soprano e cordas”, do grande compositor brasileiro Marlos Nobre, em 1976).

Se em trinta e cinco anos Victor conseguiu fazer o que fez, ficamos a pensar no que ele poderia ter realizado, a que alturas poderia ter chegado, se tivesse tido mais tempo...
V.A. Bezerra, 2001

Embora tenha estudado fora do país, Victor consolidou sua carreira profissional no Brasil, mas mesmo sendo um músico consagrado, era mais reconhecido no exterior do que em seu próprio país, e isso lhe doía muito. Apesar de ser aclamado como um mestre em um estilo originalmente americano, o jazz, Victor nunca esquecera suas raízes brasileiras, e sempre as expressou musicalmente seja em suas composições, seja em suas performances. Como músico enfrentou muitas dificuldades financeiras, principalmente porque os brasileiros não têm uma cultura de apreço à música instrumental. Em entrevista à Folha de São Paulo em junho de 1977, disse:
"É uma barra viver e sobreviver dentro desse esquema a que me propus. É preciso ter peito, garra, passar fome, como eu passei nos Estados Unidos".

Após a morte de Victor, sua mãe, Elba, achou duas malas do filho trancadas. Estas malas permaneceram fechadas até que em 1988 dona Elba resolveu entregá-las ao irmão gêmeo de Victor, o pianista João Carlos Assis Brasil. Quando abriu as malas, João teve uma grata surpresa, nelas estavam contidas mais de 400 partituras com composições inéditas. Peças para piano solo, para orquestra, quarteto de cordas, jazz erudito e música popular.

Algumas de suas produções:
Desenhos (1966)
Trajeto (1968)
toca Antonio Carlos Jobim (1970)
Esperanto (1972)
disco em concerto, no Teatro da Galeria (1974)
O Grito (1975)
Orquestra Sinfônica Brasileira - Suíte Para Sax Soprano e Cordas (1976)
Pedrinho (1980)



































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