terça-feira, 29 de março de 2011

William-Adolphe Bouguereau

William A. Bouguereau (La Rochelle, 30 de Novembro de 1825 — La Rochelle, 19 de Agosto de 1905) foi um pintor acadêmico francês. Tradicionalista, despretensioso e modesto, tornou-se um conceituado artista do século XIX e foi um membro de liderança do Instituto da França e presidente da Sociedade de Pintores, Escultores e Gravadores. A sua reputação como pintor de temas mitológicos não faz justiça ao pintor de ternas mães, crianças e jovens raparigas. A maior parte destas obras foram pintadas na sua terra natal, La Rochelle, no jardim do seu estúdio, em um estilo realista quase fotográfico que se tornou um sucesso entre os colecionadores de seu tempo, embora modernamente tenha sido relativamente esquecido pela celebridade dos impressionistas seus contemporâneos. En 1896, com 71 anos, desposou uma estudante de arte norte-americana, Elizabeth Gardner, cujas pinturas mostram claramente a forte influência do seu mestre.

William-Adolphe Bouguereau nasceu em uma família de comerciantes de vinho e óleo de oliva, e parecia destinado a seguir os passos de seus ancestrais se não fosse a intervenção de seu tio Eugène, que lhe apresentou a cultura clássica e bíblica e arranjou que ele fosse encaminhado a uma escola superior. Bouguereau desde cedo mostrou possuir um talento incomum, e um cliente de seu pai instou com ele para mandar o jovem aprender na École des Beaux-Arts de Bordeaux, onde recebeu o primeiro prêmio em pintura de figura por uma representação de São Roque. Para sobreviver desenhava rótulos para gêneros alimentícios.

Através de seu tio, que era um cura, recebeu uma encomenda para pintar retratos dos paroquianos, e com a renda dos trabalhos mais a ajuda de sua tia pôde se dirigir a Paris e freqüentar a École des Beaux-Arts parisiense. Para se aprimorar no desenho anatômico assistia a dissecções, e estudava história e arqueologia. François-Edouard Picot o recebeu como discípulo e com ele Bouguereau se aperfeiçoou no estilo acadêmico, que enfatizava a pintura histórica e mitológica, dominadas pelo artista a ponto de vencer a disputa para o Prêmio de Roma de 1850, com sua obra Zenóbia encontrada por pastores nas margens do Araxe.

Estabelecendo-se na Villa Medici de Roma, pôde estudar diretamente e com grande proveito os mestres do Renascimento, sentindo grande atração pelo trabalho de Rafael. Já seus primeiros críticos aplaudiam sua mestria no desenho, a feliz composição das figuras e a afortunada filiação a Rafael, de quem diziam que tampouco ele fora original, por ter aprendido tudo dos antigos. Feliz com esta apreciação compreensiva, e tendo sido bem sucedido no cumprimento de uma das cláusulas de sua pensão, que exigia uma cópia de Rafael, adotou o mesmo tipo clássico de composição em muitas obras de sua longa carreira.

Em 1856 casou-se com Marie-Nelly Monchablon, e com ela teve cinco filhos. Nesta década estabeleceu fortes laços com Paul Durand-Ruel e outros marchands. Os Salões recebiam em média 300 mil visitantes por ano, o que os constituía em importantíssima vitrine para exposição de novos talentos e um trampolim para sua inserção no mercado, e eram muito freqüentados por colecionadores. Suas obras tinham boa aceitação e logo sua fama se expandiu para a Inglaterra, possibilitando-lhe em 1860 adquirir uma grande casa com atelier em Montparnasse.

Bouguereau era um ferrenho tradicionalista, cujo estilo de grande verossimilhança trouxe nova vida tanto para temas clássicos pagãos como para os cristãos. Criou em suas pinturas um mundo utópico, cheio de ninfas, pastores e madonnas. Seus camponeses eram sempre representados impecavelmente limpos, belos e bem vestidos, numa idealização perfeitamente aceitável para boa parte do público e dos conhecedores. Entretanto, outros preferiam a honestidade de Jean-François Millet e seus camponeses mostrados mais de acordo com os fatos.

Seu método de trabalho estava de acordo com a temática e simbologia classicista que adotara, realizando inúmeros esboços preparatórios com tinta e estudos em desenho, numa construção minuciosa e laboriosa de todas as figuras e fundos. A impressionante suavidade de textura na descrição pictórica da pele humana e a delicadeza de formas e gestos que obtinha nas mãos, pés e faces eram especialmente admiradas. O mesmo com sua habilidade de se adaptar à decoração pré-existente das residências, igrejas e edifícios públicos para onde realizava obras complementares, recebendo por isso grande quantidade de encomendas. Sua fama crescia sem cessar, e logo recebeu as honras da Academia, tornando-se membro vitalício em 1876, e em 1885 foi condecorado Comandante da Legião de Honra. Sua carreira como professor começou em 1875 na Academia Julian, e usou de sua influência para abrir as portas de diversas instituições artísticas às mulheres, incluindo a Academia.

Perto do fim da vida expressou seu amor à arte: "A cada dia entro em meu estúdio cheio de alegria; à noite, quando a escuridão me obriga a deixá-lo, mal posso esperar pelo dia seguinte. Se eu não pudesse me devotar à minha amada pintura eu seria um pobre coitado". Com tamanha dedicação desenvolveu uma carreira extraordinariamente prolífica, deixando oitocentas e vinte e seis obras. Faleceu com oitenta anos, de um mal cardíaco. Quando vivo Bouguereau era considerado um dos maiores pintores do mundo pelos acadêmicos, com suas obras atingindo elevados preços, mas ao mesmo tempo era criticado pelos vanguardistas. Sua trajetória foi praticamente uma ascensão contínua, com poucos momentos negativos. Para muitos ele epitomizava a tradição, o bom gosto e o refinamento. Mas Degas e seus companheiros costumavam chamar ironicamente de Bougueresco estilos artificiosos semelhantes ao seu, mesmo que tenham reconhecido que ele deveria no futuro ser lembrado como o maior dos pintores franceses do século XIX. Esta asserção, contudo, foi interpretada por Fred Ross, diretor do Art Renewal Center, como também uma ironia e uma alusão ao possível gosto duvidoso dos pósteros. Os colecionadores norteamericanos o tinham como o melhor pintor francês de seu tempo, e era altamente aprecido também na Holanda e Espanha, mas depois de 1920 seu prestígio começou a declinar até desaparecer, em parte por sua firme oposição aos impressionistas. Ao longo de décadas seu nome sequer constou em enciclopédias de arte.

Sua reabilitação começou em 1974, quando timidamente foi montada uma exposição no New York Cultural Center, apenas a título de curiosidade histórica. Na década seguinte a Borghi Gallery expôs 23 pinturas e um desenho, e no mesmo ano sua produção recebeu uma grande mostra que itinerou pelo Petit Palais, em Paris, o Wadsworth Atheneum em Hartford, e encerrando no Museu de Belas Artes de Montreal, no Canadá. Hoje seus trabalhos estão expostos em grandes museus de várias partes do mundo. Sua posição na história da arte é apreciada modernamente de forma muito diversa do período em que sofreu descrédito por parte dos modernos. Fred Ross assim o declara:
"As ideologias modernistas adoram dizer que Bouguereau foi irrelevante para o seu tempo porque ele não era um dos impressionistas que estavam abrindo o caminho para o expressionismo abstrato. Nada poderia estar mais longe da verdade. Filho das revoluções francesa e americana como era, Bouguereau, junto com muitos outros artistas e escritores daquele momento, acreditaram nas inovações da filosofia iluministas: Democracia, Direitos dos homens, 'Liberté, Egalité, Fraternité'. Não só não é verdade que ele foi irrelevante, mas nada poderia ser mais relevante do que obras como esta (falando da tela 'Jovens ciganos'), que enobreciam e elevavam as pessoas comuns e os camponeses. E qual maneira melhor do que tomar a ralé da sociedade, os ciganos, e alçá-los até os céus? Eles são tanto belos como não têm beleza em demasia: 'reais' e 'ideais' ao mesmo tempo". Kara Ross completa:
"Bouguereau amava exaltar os pobres. (…) A dignidade das classes inferiores era um tema favorito para Bouguereau, que o abordou em muitos de seus trabalhos"

Link para arquivo de imagens do portfólio do artista em (.PPT):
http://www.4shared.com/file/sSTdIBqW/William_Adolphe_Bouguerau.html

Nenhum comentário:

O Canto encantado

Aguardando o solstício de 21dez12