terça-feira, 12 de maio de 2009
A cor como elemento de expressão do Carnaval
Maior espetáculo do planeta. Exageros à parte, é assim que é conhecido o Carnaval brasileiro, que tem nessa festa popular, de norte a sul e de leste a oeste do país, uma das maiores manifestações da criatividade, alegria e descontração de nosso povo.
O Carnaval não nasceu no Brasil, mas encontrou aqui as condições ideais para sua exaltação. O evento é a maior manifestação de cultura popular, ao lado do futebol. É um misto de folguedo, festa e espetáculo teatral, que envolve arte e folclore. Na sua origem, surge basicamente como uma festa de rua.
A forma de comemorar pode variar de região para região - através das escolas de samba no Rio de Janeiro, São Paulo e em outras cidades, dos trios elétricos na Bahia, do frevo de rua em Pernambuco - mas, em todas as manifestações, um elemento comum se faz presente com um detalhamento minucioso: a cor.
Para o carnavalesco da Escola de Samba Rosas de Ouro, de São Paulo, Raul Diniz, não dá para imaginar o Carnaval sem o colorido de suas alegorias. Ele explica que a cor é um assunto tão sério para as escolas de samba que a sua identidade começa pela definição das cores com que as agremiações são conhecidas: verde e rosa, da Mangueira; verde e branco, da Imperatriz Leopoldinense; preto e branco, da Gaviões da Fiel; rosa, azul e branco, da Rosas de Ouro, e assim por diante.
Diniz observa que até há pouco tempo o planejamento visual dos desfiles das escolas de samba era rigoroso e, além das cores oficiais das escolas nas alegorias para os desfiles na avenida, somente permitia a utilização do prata e do ouro, tonalidades consideradas neutras.
Outro fato que dá a idéia da importância da cor num desfile de Carnaval, segundo o carnavalesco da Rosas de Ouro, é que a escolha do tema e o planejamento visual do desfile ocorrem muito antes da realização de concursos para a escolha da música que vai enriquecer o enredo.
Diniz, que diz ter o maior número de vitórias no Carnaval paulista, informa que costuma apresentar projetos detalhados para a diretoria da escola de samba e para seus componentes, explicando com minúcias a sua criação. "Se o pessoal não comprar a idéia, não há como levá-la adiante", assinala Diniz.
O carnavalesco explica que o pessoal mais simples das escolas de samba é que acaba sendo mais rigoroso quanto aos aspectos visuais das fantasias, alegorias e adereços. Segundo ele, as pessoas de uma categoria mais elevada, de uma maneira geral, participam dos desfiles por diversão, enquanto a base das escolas quer aparecer bonita e elegante na passarela.
Laboratório de cores
Raul Diniz também considera o Carnaval um laboratório de cores e de produtos que lhe dão forma. Embora o Carnaval tenha evoluído e muitas escolas atuem quase como empresas, segundo ele a maioria delas trabalha com recursos reduzidos e o pessoal, que é a razão dessas entidades, não pode suportar os custos de projetos dispendiosos.
O caminho seguido então é trabalhar com material alternativo e sobras industriais que permitam materializar, com todo o seu colorido, o tema a ser levado para a passarela.
Arlequins, Pierrôs e Colombinas: o Carnaval começou com eles
A origem do Carnaval vem de uma manifestação popular anterior à era Cristã, tendo se iniciado na Itália com o nome de Saturnálias - festa em homenagem a Saturno. As divindades da mitologia greco-romana Baco e Momo dividiam as honras nos festejos, que aconteciam nos meses de novembro e dezembro.
Durante as comemorações em Roma, acontecia uma aparente quebra de hierarquia da sociedade, já que escravos, filósofos e tribunos misturavam-se em praça pública. Com a expansão do Império Romano, as festas tornaram-se mais animadas e freqüentes. Na época ocorriam verdadeiros bacanais.
No início da era Cristã começaram a surgir os primeiros sinais de censura aos festejos mundanos, na medida em que a Igreja Católica se solidificava. Querendo impor uma política de austeridade, a igreja determinava que esses festejos só deveriam ser realizados antes da Quaresma.
Desde os primeiros tempos, Pierrô, Arlequim e Colombina são personagens centrais do Carnaval. Os trajes multicoloridos destas figuras deram origem às fantasias contemporâneas e são um dos ingredientes da alegria dessa festa popular. Conheça, a seguir, um pouco desses personagens.
Arlequim: personagem da antiga comédia italiana (commedia dell'arte) de traje multicolor, feito em geral de losangos, que tinha a função de divertir o público nos intervalos, com chistes e bufonadas. Foi posteriormente incorporado como um dos personagens nas peripécias das comédias, transformando-se numa de suas mais importantes personagens. Amante da Colombina. Farsante, truão, fanfarrão, brigão, amante, cínico.
Colombina: principal personagem feminina da commedia dell'arte, amante do Arlequim e companheira do Pierrô. Namoradeira, alegre, fútil, bela, esperta, sedutora e volúvel. Vestia-se de seda ou cetim branco, saia curta e usava um bonezinho.
Pierrô: Personagem também originário da commédia dell'arte, ingênuo e sentimental. Usava como indumentária calça e casaco muito amplos, ornada com pompons e de grande gola franzida.
Um festival de brilho, cores e criatividade
Lembra quando para brincar o carnaval era suficiente uma fantasia costurada pela sua avó, um grupo de amigos e um refrão do tipo "Mamãe, eu quero!" pra sair pelas ruas? É, faz tempo... Hoje o carnaval envolve rios de dinheiro, publicidade, competição. As Escolas de Samba estão cada vez mais profissionalizadas e o que era folclore popular virou um grande negócio. Ainda assim, o espaço para a arte sobrevive: são artistas plásticos, pintores, músicos e compositores trabalhando meses a fio para apresentar no final de fevereiro suas escolas coloridas, belas e contagiantes.
E como criar a harmonia entre a imensa variedade de cores que compõe um desfile de carnaval sem se perder na mistura das cores? Para desvendar esta questão a equipe de reportagem do MundoCor falou com quem realmente entende do assunto: Joãosinho Trinta, o maior carnavalesco do Brasil. Comandando a equipe de arte da Escola de Samba Acadêmica do Grande Rio, em Caxias, Rio de Janeiro, o carnavalesco diz não haver segredo para harmonizar as cores num desfile. "A única regra chama-se bom gosto", afirma.
Para Joãosinho Trinta, quem tem mau gosto nunca saberá combinar cores. Joãosinho só atenta para um detalhe: respeitar as cores da escola. Por isso, na Grande Rio, o verde, o vermelho e o branco merecem destaque sempre. Porém, esta determinação não restringe o uso de outras cores. "Existe a liberdade de usar toda gama de cores", fala Joãosinho. Tudo depende do enredo, da história que a Escola quer contar.
Quem também vai dar destaque para o vermelho, o verde e o branco é a X-9 Paulistana, localizada no bairro da Parada Inglesa, em São Paulo. Mas o carnavalesco da escola, Lucas Pinto, não acredita que haja algum tipo de regra na utilização das cores. "Não usamos no desfile só as cores da escola. Isso é coisa do passado", diz Lucas. Para ele, é importante que se sintonize a cor da Escola em alguns momentos para que ela não fique totalmente descaracterizada, mas diz não haver esta obrigatoriedade.
O enredo da X-9 este ano, "Estive aqui e lembrei-me de você. Me leva, Brasil" fala de arte popular, de artesanato, de souvenires. O que, de acordo com Lucas, já é algo muito colorido pela própria miscigenação dos artesãos. "O Brasil é um país colorido: temos o negro, o branco, o índio e, a partir daí, as várias outras raças". É esta pluralidade étnica e cultural que vai estar relacionada o tempo todo com a variedade de cores que a escola apresentará. "O Brasil é uma colcha de retalhos de culturas", conclui o carnavalesco.
O fato de o enredo abranger todas as regiões do país também influenciou no colorido da escola este ano. A representatividade das cores vai estar atrelada ao clima de cada região. "O Nordeste é quente, o Sul é mais frio," o que determina, assim, a escolha das diferentes tonalidades. Lucas acredita que a harmonia das cores se aprende olhando para a natureza: "É meio que uma compilação do Criador".
Quanto à parte mais técnica da arte, Lucas diz só se preocupar com a textura das tintas. Nos carros alegóricos usam-se tintas acrílicas, vernizes e poliuretanos, tudo com textura de qualidade. Para ele, trabalhando com uma tinta mais grossa, tem-se um maior preenchimento, pois ela encorpa o material. O uso de tintas fluorescentes também contribui muito para um visual mais vibrante e chamativo. E o resultado final a gente confere pela telinha ou mesmo no sambódromo: um carnaval cheio de cores e muita vida!
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