sexta-feira, 14 de setembro de 2007
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O artista plástico João Barcelos possui uma pintura classificada no meio artístico de figurativa. Ele, no entanto, acredita que está longe de ser um pintor realista ou detalhista. Os contornos de suas obras não são rígidos nem há o compromisso de uma retratação fotográfica. Ela é desenvolvida através de cores suaves e harmoniosas, onde toda a beleza do contraste entre a luz e a sombra é habilmente explorada.
Estas características fazem-no aceitar que seu estilo seja impressionista. Entretanto, pelo fato de não ser detalhista em alguns pontos de seus quadros, procurando externar seus sentimentos através de algumas pinceladas soltas e aparentemente incontroladas, pode-se dizer que seu estilo é impressionista com toques expressionistas.
A contemporaneidade do seu trabalho é expressa na utilização de recentes materiais de pintura, assunto em que é um grande estudioso. Geralmente faz uso dos novos pigmentos orgânicos sintéticos, que possuem um poder de tingimento muito maior que os antigos pigmentos minerais, são mais transparentes e não perdem seu brilho e identidade quando misturados com o branco.
Os seus primeiros quadros a óleo foram pintados ainda criança, com a idade de 12 anos. Entretanto, sua formação profissional não começou pela Arte. Durante a vida, aprendeu a ser Físico, após uma passagem de cerca de 10 anos pela carreira militar. Concluiu o bacharelado em Física na UERJ, tirou o mestrado e o doutorado na UFRJ e fez dois pós-doutorados nos Estados Unidos, no Departamento de Física e Astronomia da Universidade de Rochester.
João Barcelos foi professor da UERJ, trabalhou em pesquisa por cerca de 30 anos (a Física Quântica foi sua especialidade), fez vários trabalhos científicos. Apesar de tudo isto, a Arte nunca deixou de estar presente em suas atividades.
Foi a partir do ano de 1990 que decidiu arrumar mais tempo para a pintura. Começou freqüentando as aulas do Professor Álvaro Xavier, no seu famoso Ateliê Flutuante da Praia da Bandeira, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, onde suas filhas, artistas em potencial, tinham aulas de desenho e aquarela.
Freqüentou a Sociedade Brasileira de Belas Artes, participando principalmente dos Salões. Não foi aluno de nenhum curso na Sociedade, mas reconhece ter aprendido muito e ter definido sua técnica ouvindo os valiosos comentários e sugestões do Professor Dario Silva.
Houve também um período, embora curto, de aulas de modelo vivo com o Professor Bandeira de Melo. Essas aulas ajudaram-no a aprimorar seu desenho e a evoluir artisticamente através do imenso mundo de conhecimento de que o Professor Bandeira é possuidor.
Assim, até o final de 2002, durante cerca de doze anos, foi igualmente Físico e Pintor. Embora sejam duas atividades aparentemente antagônicas, elas seguiram paralela e harmoniosamente no seu dia-a-dia. Talvez apareçam nos seus quadros através da harmonia entre a luz e a sombra ou no convívio pacífico entre cores quentes e frias.
Enquanto Físico, usou a arte para sentir a harmonia e a beleza, muitas vezes escondidas, nas equações de sua pesquisa, e enquanto Artista usou a Ciência para tentar entender os mistérios sobre composição e harmonia de formas e cores. Atualmente é só Artista. "A Física é para mim, no momento, um elo racional e indispensável com o mundo em que vivo".
Processo criativo
No entendimento de João Barcelos, um quadro é um conjunto harmonioso de cores, formas, luz e sombra. “As etapas de elaboração dos seus quadros são:
- O desenho, onde se tem a primeira idéia do conjunto. Aqui, procura pela harmonia das formas. Qualquer aperfeiçoamento ou correções podem ser introduzidos nas etapas seguintes.
- A marcação inicial, onde procura introduzir a harmonia entre luz e sombra. Aqui, usa tintas puras, dando preferência às de natureza transparente e com grande poder de tingimento, como os "phthalos" e " quinacridones". Mais especificamente, nas tintas que usa nesta etapa estão presentes pigmentos os mais diversos. Nesta parte não usa branco nem óleo de linhaça, mas terebentina. Estas cores não têm, necessariamente, correlação com as cores finais (entretanto é possível sentir sua agradável presença, respirando através das tintas do quadro pronto). Após esta etapa, João Barcelos diz ter uma melhor idéia do conjunto, mas, depois, se notar que algo ainda pode ser melhorado, faz isto na última etapa.
- Colocação das tintas definitivas. Nesta fase procura pela harmonia das cores. Trabalha com óleo de linhaça refinado alcalinamente (ou prensado a frio) e óleo polimerizado (este nas etapas finais). Após esta etapa, se nota que muita coisa não ficou boa, faz o quadro novamente. Grandes correções podem tirar a espontaneidade do trabalho, completa o artista.
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