terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Candido Portinari (Guerra e Paz) e Leo Gandelman (entrevista ejazz)
O Memorial da América Latina, em São Paulo, vai exibir os painéis "Guerra" e "Paz", do pintor Cândido Portinari (1903-62). As obras foram pintadas no Rio de Janeiro entre 1952 e 1956, sob encomenda, para serem expostas na entrada da sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. No prédio da ONU, ficaram por 54 anos, até voltarem ao Brasil no final de 2010. Foram então exibidas por 12 dias no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, atraindo um público de 40 mil pessoas nesse período.
Depois disso, passaram por obras de restauro durante cerca de quatro meses. O ateliê onde o restauro foi feito foi montado no Palácio Gustavo Capanema, no centro do Rio de Janeiro, e o trabalho pôde ser acompanhado pelo público. Agora, estarão expostas em São Paulo até o dia 21 de abril. Além dos dois painéis, a mostra reunirá cerca de 100 dos estudos preparatórios para as obras e diversos documentos históricos, como fotos e cartas. A exposição abre as portas às 9h desta terça-feira e tem entrada gratuita. O Memorial da América Latina foi o local escolhido por suas dimensões. Como os painéis têm 14 metros de altura cada um, era necessário uma sala com um pé direito bastante alto. É a primeira vez que conseguimos reunir todos esses estudos, o que dá a esta exposição uma importância ainda maior, comenta João Candido Portinari, filho do pintor e fundador e diretor-geral do Projeto Portinari. São Paulo é o primeiro destino da fase itinerante do projeto, que depois vai fazer escala em outras cidades do mundo. Os painéis voltam à sede da ONU em 2013, quando acabar a reforma na sede da organização.
Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda
De 7 de fevereiro a 21 de abril. De terça a domingo, das 9h às 18h
SAX SEM FRONTEIRAS por Mona Gadelha
A carreira peculiar de Leo Gandelman pode ser analisada como um fenômeno no mercado brasileiro de música instrumental, um segmento em que o volume de vendas não é diretamente proporcional ao talento dos músicos. Não no caso de Gandelman, saxofonista, compositor, arranjador e produtor. Com doze discos lançados, ele já vendeu mais de 400 mil cópias. "Solar", seu terceiro álbum, produzido em 1990, alcançou a marca dos 70 mil, quase um disco de ouro, que Gandelman já conquistou como produtor do disco "Virgem", de Marina Lima.
Sua música, com uma bem dosada influência de jazz e de MPB, chega a freqüentar as prateleiras dedicadas ao pop. Isso se deve a personalidade curiosa de Leo Gandelman, um músico aberto às novas tendências musicais, sem medo de atravessar fronteiras. Filho de um maestro e uma pianista clássica, de carreira precoce, aos 15 anos, ele já despontava como flautista da Orquestra Sinfônica Brasileira. Hoje, ele só tem motivos para comemorar e rever os 16 anos de carreira, marcados por inúmeras participações em festivais internacionais, prêmios (ele foi 15 vezes eleito "Melhor Instrumentista" pelo "Diretas na Música",do Jornal do Brasil, de 1986 a 1999).
Antes do lançamento do novo CD e do primeiro DVD de música instrumental brasileira, "Leo Gandelman Ao Vivo" (EMI), na Sala São Paulo, nos dias 1,2 e 3 de maio, com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Gandelman conversou com o ejazz sobre esse novo trabalho e sua volta ao Brasil depois de alguns anos morando nos Estados Unidos. No repertório do DVD faixas como "A Rã" (João Donato/Caetano Veloso), Maracatu Atômico (Nelson Jacobina/Jorge Mautner), "Na Baixa do Sapateiro" (Ary Barroso), "As Rosas Não Falam" (Cartola), "Solar" e "Castelo de Areia", composições assinadas por ele.
Ejazz: Você viveu estes últimos anos nos Estados Unidos e, de volta ao Brasil, lança seu primeiro CD ao vivo e o DVD. Como foi a produção desse trabalho - da escolha do repertório à formação da banda? O que o diferencia do processo de gravação em estúdio?
Leo Gandelman: Este é o meu primeiro trabalho ao vivo e estou muito feliz com o resultado. Foi um momento especial. As coisas aconteceram de forma espontânea. Eu e todos os músicos tivemos a oportunidade de viver a magia da música com intensidade. Foi realmente muito bom para nós. O repertório é uma síntese do que mais marcou minha carreira nessa trajetória de 16 anos. A banda é composta pelos músicos que vêm me acompanhando nos últimos anos, todos muito especiais para mim: Bruno Cardozo (teclados), Alberto Continentino (baixo), Juliano Zanoni (bateria), Bernardo Bosisio (guitarra) e Jakaré (percussão).
Ejazz: Para o lançamento em São Paulo você se apresenta com a OSESP. E esta não é a primeira vez que sobe ao palco com uma orquestra. Como ocorreu essa aproximação com as formações sinfônicas? Está relacionada aos seus estudos de música clássica?
Leo Gandelman: Estudei na escola clássica desde as primeiras notas até chegar a ser solista da Orquestra Sinfônica Brasileira por ocasião dos "Concertos para a Juventude", quando tinha 15 anos. Mais tarde, comecei a estudar jazz, aos 19 anos). Comecei a tocar saxofone e fui estudar na Berklee College of Music em 1977, onde fiquei até 79 estudando também harmonia, arranjo e composição. Recentemente toquei com as sinfônicas de Salvador, Brasília e com a Orquestra Sinfônica Brasileira no Central Park e Lincoln Center (Avery Fisher Hall), em Nova York. Com a OSESP, nos dias 1 e 3 de maio, o repertório é a "Fantasia para Sax Soprano e Orquestra", de Heitor Villa-Lobos, e o "Concertino para Sax Alto e Orquestra", de Radamés Gnattali. É um grande desafio para mim. Mas no dia 2 de maio estarei na Sala São Paulo acompanhado de um trio (Bruno no piano, Juliano na bateria e André Vasconcellos no baixo) fazendo o show de lançamento do DVD. É uma excelente oportunidade especial de realizar este show, que temos feito pelo Brasil afora, em condições únicas que só a Sala São Paulo oferece.
Ejazz: Dessa recente experiência nos Estados Unidos, o que você traz na bagagem?
Leo Gandelman: Muita troca de informação, oportunidade de tocar para novos públicos e, é claro, alguns anos de janela - observação e experiência!
Ejazz: O que mais lhe impressionou nas temporadas do Blue Note, em Nova York? A música brasileira, que sempre teve prestígio lá fora, está ainda mais em alta agora?
Leo Gandelman: O Blue Note, sem dúvida, é um lugar que marca a carreira de um artista. É uma casa de jazz que atrai público do mundo todo. Mas a expectativa dos americanos e estrangeiros em geral com relação à música brasileira continua sendo ainda a bossa nova. Foi o período que mais marcou a nossa exportação musical, ficando como referência até hoje. É muito difícil para quem não conhece o Brasil ter uma noção do que se passa musicalmente aqui dentro hoje!
Ejazz: Botafoguense que acaba de compor a trilha do filme "Estrela Solitária", baseado na vida do genial jogador garrincha, que referências você utilizou na realização deste trabalho? Será lançado em CD?
Leo Gandelman: A minha referência foi o samba jazz e a música de gafieira do final da década de 50 até a década de 70. Tive boas conversas com o Rui Castro (autor do livro) e também um craque na música. Ele me deu várias dicas para a criação. Tenho agora uma produtora e estúdio em Ipanema, a ZAGA Estúdios, e esta trilha marca minha volta ao mercado. Nesse estúdio, em sociedade com o Juliano Zanoni, temos a intenção de trabalhar musicando imagens e, além de "Estrela Solitária", fizemos também diversas trilhas para a TV. Entre eles, a do " Globo Ecologia " . Trabalhei cerca de cinco anos também como fotógrafo, e fazer trilhas sonoras, musicar imagens, é uma oportunidade de unir o aprendizado que tive no cinema com a fotografia e a minha experiência musical. Aliás no DVD tem um sub-menu que é uma exposição de fotos que fiz no meu tempo de fotógrafo profissional!
Ejazz: Seus discos vendem muito mais do que usualmente se espera da performance da música instrumental nas prateleiras. A que você atribui esse fato?
Leo Gandelman: Muita dedicação a um ideal e a busca de comunicação genuína com o público.
Ejazz: O mercado fonográfico passa por uma grande transição, tanto do ponto de vista dos meios de produção quanto de distribuição. Que análise você faz desse momento da indústria? O que está mudando?
Leo Gandelman: A música faz parte da história e o momento que vivemos é de rápidas mudanças no mundo da tecnologia, o que colocou em dúvida o suporte que vai carregar a música, ou seja, a indústria. Enquanto isso não ficar claramente definido, o mercado vai experimentar mudanças e incertezas, quando, sem dúvida, o mais afetado é o artista. Temos que ser criativos e prestar muita atenção nas opções que começam a se apresentar.
Ejazz: Você participou do novo trabalho do Bossa Cuca Nova (dos músicos Alexandre Moreira, Márcio Menescal e DJ Marcelinho da Lua), projeto de bossa com música eletrônica. Como foi essa experiência? Você pretende utilizar essas referências no seu trabalho?
Leo Gandelman: Gosto muito dos rapazes do BCN . Sou fã do trabalho deles e foi uma boa troca que rolou entre nós.
Ejazz: Com a volta ao Brasil, quais são os planos para o Masters of Groove, grupo em que você atuou junto com os músicos americanos Bernard Purdie, Grant Green e Rueben Wilson?
Leo Gandelman: Sempre que possível estaremos juntos. Em fevereiro, quando estive em Nova York tocando no Sweet Brasil, tive a oportunidade de participar da gravação do novo CD deles!
Ejazz: Recentemente você apresentou no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio o show "Leo Gandelman interpreta John Coltrane". Coltrane lhe influenciou? Que outros músicos você ouve e admira?
Leo Gandelman: Com certeza Coltrane é o pai de todos os saxofonistas de hoje. Aprendi e me influenciei bastante com o seu trabalho. Admiro hoje muito também o Kenny Garret, Joshua Redman e um grupo de saxofonistas novos que temos aqui no Brasil, como o Teco Cardoso, Marcelo Martins, Carlos Malta, Canuto, Proveta e outros.
Ejazz: Você voltará também a atuar na produção musical no Brasil? Há projetos em andamento?
Leo Gandelman: Com certeza. Tem vários projetos em andamento e agora com o estúdio tudo fica mais fácil !
Ejazz: E quanto à carreira de fotógrafo profissional, dá para dividir com a música?
Leo Gandelman: De forma alguma. A energia tem que ser canalizada. Ou ela vai para um lado ou para outro. Fazer as duas coisas ao mesmo tempo seria uma "overdose" ! Fotografar agora só como amador, que aliás, é a melhor coisa !
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