segunda-feira, 9 de março de 2009

Airton SENNA

Parte de uma mensagem recebida em 03/05/94 por um médium do Grupo D.Bosco da Comunhão Espírita de Brasília...


Não escutando a voz da minha consciência, deixando-me levar pela euforia do meu instinto, antecipei, 01 de maio deste ano de 1994, o meu retorno ao mundo dos espíritos. Não culpo outros. Várias foram às vezes em que fui alertado na minha trajetória, nas pistas de competição automobilística, principalmente nos últimos tempos.

Simples pensamentos, que me falavam constantemente para abandonar as corridas até a falta de velocidade, e eu achando que era defeito do carro, o que na verdade não era. A falta de coragem em correr mais, às vezes deixava-me sem entender tal comportamento. A falta de rendimento deixava-me muitas vezes irritado, tinha os meus compromissos, tinha um contrato, um público. Tinha coragem sim.

Não, não poderia aceitar um fracasso. Não era muito, bastava apertar um pouco mais o acelerador e ganhar mais velocidade. A cada dia que passava, cobrava mais o meu rendimento. Não respeitei o meu limite, achava muito pouco, não dei ouvidos a minha consciência, chamando e alertando para o momento de parar. Somente agora, neste momento, percebo a realidade.

A fortuna bem cedo chegou a minha porta como prometido. Era o momento de parar e seguir o outro caminho já traçado e planejado por mim e meus preparadores espirituais no plano espiritual. Menos perigoso, mas com muitos compromissos com esta grande e rica nação, que sofre por ser berço de tantos irmãos em provas que aqui aportam, vindo de outras velhas e sofridas nações a quem tanto mal causaram.

Vozes outras, como disse anteriormente, chamavam-me para esses compromissos, mas fiz-me de surdo e cego para o alerta que recebia a todo o instante. Sem dúvida, foi a vaidade interior que falou mais alto dentro de mim. Foi o meu orgulho. Sair em busca de uma velocidade maior, querendo mais, uma coisa que não estava mais ao meu alcance, mas que eu queria a todo preço. Este foi o meu erro.

Por várias vezes, eu e Frank Williams discutimos reservadamente sobre o meu limite de velocidade. Percebia a minha falta de rendimento para correr mais, facilitando assim outras escuderias a subirem ao podium, o que me deixava sem ponto neste campeonato. Isto me chateava, e ultimamente sentia uma certa frustração, não vendo um resultado satisfatório que fizesse jus ao meu contrato com a Williams. O senhor Frank me dizia que temia eu não conseguir acompanhar a potência do motor do novo carro, tão bem preparado para mim, temendo chegar ao final da temporada com um baixo resultado.

a voz da minha consciência falava mais forte dentro de mim, alertando-me para o perigo que bem próximo estava. O acidente de Rubinho, a morte do companheiro da Áustria, foram, sem dúvida, um forte aviso. Senti um abalo terrível, senti uma agonia muito grande, era tudo muito estranho. Lutei, debati, denunciei. Mas não parei, não voltei atrás, não voltaria, nunca voltei. Provaria com a minha coragem, a minha equipe, que nós éramos os melhores. Provaria, era só esperar.

Frank cobrou-me um resultado positivo, pois o meu contrato estava ficando ameaçado. Pensativo e preocupado fui para o Box onde estava o meu carro, fiquei apoiado pensando por alguns segundos, quando veio a memória, como num filme, tudo quanto já tinha conquistado. Se eu quisesse poderia, naquele momento, jogar tudo para o alto e desfazer o contrato, mesmo com grandes prejuízos. Tive vontade de voltar e dizer a ele que naquelas atuais circunstâncias não poderia correr e, assim, deixaria a equipe naquele momento. Seria o certo?... Apoiado ainda no carro, em estado de meditação, relembrei, não sei o porquê, da minha família.

De novo no grid, motores roncando, passa-se algum tempo, nova largada é dada, os motores roncam mais forte, tomo o meu lugar, os demais buscando o seu melhor lugar, disparamos veloz. Passados alguns momentos algo estranho domina-me. Ouvi a voz de Frank Williams ao meu lado dizendo-me: corra! Corra! Homem! Este é o momento!... Não, não poderia ser verdade, além de ouvir a sua voz, ele estava ali ao meu lado. Como poderia? Estava sentado junto de mim! Estaria ficando louco?...

Olho o retrovisor para me certificar do que estava acontecendo ao meu redor. Não vejo os companheiros retardatários e sim a imagem fixa dos cavalos correndo em alta velocidade, como querendo alcançar-me. Volto o olhar para frente, também não vejo nada familiar, só uma grande reta. De repente, um silêncio me invade, só um estrondo percebo. Olho para ambos os lados, estou só. Olho o retrovisor, não vejo mais ninguém, nem cavalos nem bigas.

Falou-me a voz, a voz da minha consciência, agora mais do que nunca viva, frente a frente, sem esperar para depois a cobrança dos meus atos. Era como um porteiro de teatro a só deixar passar para o outro lado quando da apresentação do ingresso. Assim estava me sentindo e ouvindo a sua quase sentença.
A reta continuava sem fim, sentia-me sonolento, não ouvi mais a voz, fui sentindo um adormecimento. Uma voz foi acalentando-me, tudo foi se tornando em um silêncio profundo. Queria falar, mas não tinha forças, estava anestesiado. Só ouvia agora um canto suave... dormi...

AIRTON SENNA

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